quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Alzheimer - Como se fosse a primeira Vez


Como vocês podem perceber, hoje não são 21 de setembro, Dia Mundial do Alzheimer. Mas um dia normal que me inspirou a escrever sobre a importância na divulgação dessa doença que causa perda progressiva de memória, alucinações e dificuldade de concentração.

Digo isso, por experiência própria (não, eu não tenho Alzheimer), mas já tive a honra de trabalhar com um número considerável de idosos que apresentavam Alzheimer no Canadá. As histórias eram as mais fascinantes possíveis.

O desafio de conquistá-los e de apresentar-me todos os dias como se fosse o primeiro era surpreendente. Se para uns causa impaciência e sensação de perda de tempo, para mim foi um privilégio a experiência de ouvi-los e cuidar de cada um como se fosse membro da minha família.

Encontrei-me com idosos de diferentes culturas, países, raças e religiões, mas com duas características em comum: Possuíam Alzheimer e encontravam-se alojados no mesmo asilo. A priori, tive uma sensação horrível “Como uma família tem coragem de deixar um parente no asilo”? Mas obtive a resposta no primeiro dia. Os asilos de Toronto são especiais e os nossos velhinhos são tratados com muito respeito e carinho. Quase todos os dias são uma “festa”. Na segunda tem o Bingo, na quarta o karaokê e na sexta os bailinhos. Por se tratar de um país multicultural, o asilo recebe idosos de vários países e em cada baile acontece um tema diferente (infelizmente não presenciei a festa brasileira, pois retornei antes para o Brasil). A chegada do verão também era motivo de alegria, pois tínhamos, pelo menos uma vez por semana, o famoso barbecue.

Não era sempre que eu conseguia convencer Mr. Fitzpatrick a comparecer nos Eventos. Mas confesso que o meu lado atriz me ajudava bastante. Com meus velhinhos, já dei gargalhadas, já chorei e já passei por cada apuro... Numa manhã de muita neve (o que não é novidade no Canadá) uma senhorinha, que não me recordo o nome, veio ao meu encontro aos prantos. Sem entender muito bem o que ela dizia, tentei acalmá-la. Ela dizia mais ou menos essas palavras: “Onde estão minhas filhas? Ele raptou minhas filhas? Me ajude!” Eu não compreendia direito quem era “ele”, mas aos pouquinhos ela foi se soltando e perguntei às enfermeiras um pouco de sua história. Nossa velhinha era judia e residia na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial sofrendo perseguições e humilhações. O “ele” era o Hitler e seu maior medo era que suas filhas fossem perseguidas pela tropa do nazismo. É impossível não emocionar-me quando relembro dessa história. O instinto que tive foi de abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem – “Everything is gonna be alright.” (Ok, eu confesso que chorei muito também). Foi quando percebi que eu estava com o ser mais inofensivo em minha frente, que só precisava de carinho e segurança. No mesmo dia, tentamos entrar em contato com suas filhas que, por sua vez, foram na mesma semana visitá-la. Voltando para casa, meus pensamentos eram por inteiro da senhorinha e eu não podia esperar o amanhecer para reencontrá-la no trabalho. Assim que a vi perguntei: Como está a senhora? Com um sorriso desconfiado ela me voltou uma pergunta: “Who are you?”

Que doença é essa? Que faz com que você se esqueça dos acontecimentos atuais, mas torna o passado mais presente que nunca?
Essa doença é o Alzheimer e apesar dos 103 anos da sua descrição, pesquisadores e estudiosos ainda não descobriram a cura. Segundo dados da Universidade Regional de Blumenau, “a doença é responsável por 50% dos casos de demência na população idosa e ocorre em cerca de 4% a 5% da população após os 65 anos de idade, sendo que a incidência chega a 80% após os 90 anos”.



De acordo com informações da FURB, O Dia Mundial de Alzheimer foi criado em 21 de setembro de 1994, durante um Congresso Internacional em Edimburgo, na Escócia. Esta doença recebeu este nome em homenagem a Alois Alzheimer, um psiquiatra alemão, quem descreveu pela primeira vez, em 1906, os sintomas e as características neuropatológicas da doença de Alzheimer. Após a morte de uma paciente que apresentava perda progressiva da memória, dificuldades de concentração e alucinações, foi constatado depósitos de proteínas em seu cérebro, tanto em forma de placas, fora das células, como de emaranhados, dentro delas. De maneira simplista, apesar da seriedade da doença, os primeiros sintomas do Alzheimer são muitas vezes, errônemante, relacionados com o envelhecimento ou com o stresse, mas o mais notável é a perda de memória a curto prazo e desorientação de tempo e espaço. Na segunda fase, os pacientes apresentam dificuldades na linguagem ou na execução de movimentos. Na terceira fase ocorre a degeneração progressiva que dificulta a independência do paciente, além de manifestações como a apatia, irritabilidade e instabilidade emocional, agressividade e Incontinência urinária. Já na quarta fase, o paciente já está completamente dependente das pessoas que o cerca, pois sua massa muscular e a sua mobilidade degeneram-se. Como a defesa do corpo está muito frágil, um fator externo pode causar a morte do paciente. Por isso precisam de acompanhamento médico e atenção e carinho dos familiares.

4 comentários:

  1. Fiquei comovida com o relato da velhinha, deve ser muito gratificante poder ajudar essas pessoas com Alzheimer.Continue assim abrindo nossos olhos!
    Abraço.
    Valeila

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  2. Obrigada Val. Você como sempre atenciosa!

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  3. Paulinha, Paulinha, com esse talento todo você tem que trilhar o caminho do jornalismo. Ótimo texto. Adoro diário de bordo! Ainda mais quando está recheado com histórias de pessoas desconhecidas, mas próximas emocionalmente. Parabéns!!!

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  4. OI Felipe. Muito obrigada mesmo pelas palavras de carinho. Eu tb adoro Diário a Bordo, um dos motivos que achei o seu Blog super interessante e inteligente.
    Um forte abraço.

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